Introdução - O que é o Mercúrio

O trabalhador que lida com o mercúrio metálico é o mais exposto aos vapores invisíveis despreendidos pelo produto. Eles são aspirados sem que a pessoa perceba e entra no organismo através do sangue, instalando-se nos órgãos.
Geralmente quem foi intoxicado dessa maneira pode apresentar sintomas como dor de estomago, diarréia, tremores,depressão, ansiedade, gosto de metal na boca, dentes molescom inflamação e sangramento nas gengivas, insônia, falhas de memória e fraqueza muscular, nervosismo, mudanças de humor, agressividade, dificuldade de prestar atenção e até demência. Mas a contaminação por mercúrio pode também acontecer por ingestão.
No sistema nervoso, o produto tem efeitos desastrosos, podendo dar causa a lesões leves e até à vida vegetativa ou à morte, conforme a concentração. Neste nosso trabalho mostraremos como o mercúrio age no organismo, suas conseqüências na vida do contaminado e suas formas de tratamento.

Descrição Geral
NomeMercúrio
SímboloHg
Nome Latinohydrargirium
Corprateado
Número Atômico80
Massa Atômica200,59
Densidade13,6 g/ml
Temperatura de Fusão/Ebulição-38,87 ºC / +356,58ºC
Estado Físico Naturallíquido a temperatura ambiente
Uso Industrialtermômetros, barômetros, lâmpadas, medicamentos, espelhos, detonadores, corantes, entre outros.
Produção mundial3 400 toneladas/ano
Doença causada por contaminaçãohidrargirismo

O MercúrioO mercúrio é um metal com características sui generis. Ele é o único metal que é líquido a temperatura ambiente tendo ponto de fusão de - 38,87 graus Celcius, e ponto de ebulição de 356,58 graus Celcius. Este metal líquido prateado é muito denso, e ainda possui uma tensão superficial alta o bastante para fazer com que o seja capaz de formar pequenas esferas perfeitas nas rochas e minerais onde é encontrado. Muitas características mineralógicas simplesmente não se aplicam ao mercúrio pelo fato dele ser líquido. Não se pode, por exemplo, definir um grau de dureza. O mercúrio não possui sequer estrutura cristalina nem plano de clivagem. Quando congelado e submetido a baixas pressões, o mercúrio forma cristais no sistema romboédrico e no sistema tetragonal se submetido a altas pressões.

O mercúrio dissolve facilmente o ouro e a prata o chumbo e metais alcalinos formando ligas relativamente consistentes conhecidas como amálgamas. No ar altera-se lentamente recobrindo-se com uma película de cor cinza de oxido mercuroso. A 350 oC oxida-se mais rapidamente, produzindo óxido mercúrico vermelho, HgO. É atacado pelo cloro a frio, pelo enxofre a quente, decompõe o ácido sulfúrico e o ácido nítrico. O mercúrio é obtido pela combustão do seu sulfeto ao ar livre. Seu uso industrial é bastante amplo podendo ser usado em termômetros, barômetros, lâmpadas, medicamenteos, espelhos detonadores, corantes, entre outros. O mercúrio é monovalente sob forma de Hg nos compostos mercurosos como o Hg2O e Hg2Cl2 e bivalente nos compostos mercúricos como o HgO e o HgCl2, HgS e Hg(CNO)2.

Emprego do mercúrio na medicina

Empregado na medicina desde a antiguidade, o mercúrio vem sofrendo substituição por outros medicamentos mais potentes e menos tóxicos. Hoje, ainda se usa o bicloreto, como anti-séptico, o protocloreto como colagogo e purgativo. Os óxidos amarelo e vermelho apresentados em pomadas dermatológicas e oftalmológicas. O cianeto de mercúrio foi utilizado em casos de sífilis visceral e os diuréticos a base de mercúrio estão praticamente abandonados. O mercúrio-cromo e o mercurobutol são empregados como anti-séptico em ferimentos.

Efeitos ecológicos do mercúrio

As atividades industriais e a utilização de combustíveis fósseis em geral são acompanhadas por grandes derramamentos de mercúrio. Quando um curso de água é poluído pelo mercúrio, parte deste se volatiliza na atmosfera e depois torna a cair, em seu estado original com as chuvas. Uma outra parte absorvida direta ou indiretamente pelas plantas e animais aquáticos circula e se concentra em grandes quantidades ao longo das cadeias alimentares. Além disso, a atividade microbiana transforma o mercúrio metálico em mercúrio orgânico, altamente tóxico.

Esquema do ciclo de intoxicação do mercúrio

Esquema do Ciclo de Intoxicação do Mercúrio

Intoxicação por mercúrio

Uma vez absorvido, o mercúrio é passando ao sangue, é oxidado e forma compostos solúveis, os quais se combinam com as proteínas sais e álcalis dos tecidos.

Os compostos solúveis são absorvidos pelas mucosas, os vapores por via inalatória e os insolúveis pela pele e pelas glândulas sebáceas.
O mercúrio forma ligações covalentes com o enxofre e quando entra na forma de radicais sulfídrilas, o mercúrio bivalente substitui o hidrogênio para formar mercaptides tipo X-Hg-SR e Hg(SR)2 onde R é proteína e X radical eletronegativo. Os mercuriais orgânicos formam mercaptides do tipo RHg-SR. Os mercuriais interferem no metabolismo e função celular pela sua capacidade de inativar as sulfídrilas das enzimas, deprimindo o mecanismo enzimático celular.

A medida que o mercúrio passa ao sangue, liga-se as proteínas do plasma e nos eritrócitos distribuindo-se pelos tecidos concentrando-se nos rins, fígado e sangue, medula óssea, parede intestinal, parte superior do aparelhos respiratório mucosa bucal, glândulas salivares, cérebro, ossos e pulmões. è um tóxico celular geral, provocando desintegração de tecidos com formação de proteínas mercuriais solúveis e por bloqueio dos grupamentos –SH inibição de sistemas enzimáticos fundamentais a oxidação celular. Nas vias digestiva os mercuriais exercem ação cáustica responsáveis pelos transtornos digestivos (forma aguda). No organismo todo, enfim o mercúrio age como veneno protoplasmático.

Sintomas da intoxicações por mercúrio

As intoxicações por mercúrio variam seus sinais e sintomas de acordo com o nível de intoxicação, aguda, subaguda e crônica.

Intoxicação aguda

  • Aspecto cinza escuro na boca e faringe
  • Dor intensa
  • Vômitos (podem ser até sanguinolentos)
  • Sangramento nas gengivas
  • Sabor metálico na boca
  • Ardência no aparelho digestivo
  • Diarréia grave ou sanguinolenta
  • Inflamação na boca (estomatite)
  • Queda dos dentes e ou dentes frouxos
  • Glossite
  • Tumefação da mucosa da gengiva
  • Nefrose nos rins
  • Problemas hepáticos graves
  • Pode causar até morte rápida (1 ou 2 dias)

Intoxicação crônica

  • Transtornos digestivos
  • Transtornos nervosos
  • Caquexia
  • Estomatite
  • Salivação
  • Mau hálito
  • Inapetência
  • Anemia
  • Hipertensão
  • Afrouxamento dos dentes
  • Problemas no sistema nervoso central
  • Transtornos renais leves
  • Possibilidade de alteração cromossômica

Valores patológicos do mercúrio

Urina de 24 horsa
de 0,00 a 0,01 mgnão tóxico (acidental)
de 0,02 a 0,09 mgperigo de intoxicação
de 0,010 a 0,80 mgintoxicação crônica
acima de 1 mgintoxicação aguda
acima de 2 mgintoxicação subaguda

Fonte: "Toxicologia Humana e Geral" de Dilermando Brito Filho, 2ª edição, Rio de Janeiro 1988.

Sangue
de 0,00 a 0,1 mg/lnão tóxico
acima de 10 mg/lintoxicação

Fonte: "Toxicologia Humana e Geral" de Dilermando Brito Filho, 2ª edição, Rio de Janeiro 1988.

Tratamento para intoxicação aguda

Deve-se remover o tóxico com lavagem gástrica, usando-se água albuminosa ou leite de magnésia. Dar laxantes e eméticos. Pode-se usar água morna com vomitivos ( não para o caso de cloreto de mercúrio (HgCl2) por ser cáustico).

Como antídoto pode ser usado o dimercapol, também conhecido como BAL (british anti-lewisite) de 3 a 4 mg/kg de 4 em 4 horas nos dois primeiros dias e de 12 em 12 horas até o décimo dia. Há quem recomende como antídoto específico a rongarita (formaldeido sulfoxilato de sódio) usada para lavagem a 5%. Deve-se ainda fazer tratamento sintomático. Em caso de não haver BAL disponível deve-se administrar 10 litros diários de solução isotônica de cloreto de sódio a fim de proteger os rins.

Tratamento para intoxicação crônica

Em caso de intoxicação crônica devem-se tomar as seguintes providências

  • Afastar o paciente do local ou fonte de intoxicação
  • Manter nutrição por via endovenosa ou oral
  • Tratar a oligúria (diminuição do volume de urina)
  • Fazer terapia de sustentação e substâncias queladoras (BAL)

Relato de casos de intoxicação por mercúrio (hidrargirismo)

Minemata-Japão - Um Caso Clássico

Um caso clássico de intoxicação por mercúrio ocorreu em 1953 na cidade de Minamata, no Japão, quando 79 pessoas morreram em conseqüência da intoxicação por mercúrio. Minamata é uma região de pesca e a maioria dos doentes vivia dessa atividade, consumindo peixes regularmente. Com o passar do tempo começaram a sentir sintomas como perda de visão, descoordenação motora e muscular. Mais tarde descobriu-se que as deficiências eram causadas pela destruição dos tecidos do cérebro, em razão da contaminação por mercúrio. Até então não se sabia de que maneira a contaminação havia ocorrido.

Esse mistério só veio a ter solução três anos mais tarde, quando as autoridades japonesas descobriram que uma indústria local utilizava um composto de mercúrio, que ao atingir a baia de Minamata, incorporava-se a cadeia alimentar dos peixes. Os compostos orgânicos presentes na carne dos peixes, causava doenças às pessoas que a consumiam.

Garimpeiros de Serra Pelada

Podemos ainda citar inúmeros casos de contaminação de mercúrio ocorridos no Brasil, para ser mais preciso em garimpos na região norte, na famosa jazida conhecida mundialmente como Serra Pelada. Ali o minério de ouro era garimpado e depois devia ser purificado. O garimpeiro, então, dotado e um tipo de cadinho para derreter o minério e maçarico misturava o mercúrio ao minério.

O mercúrio que reage com o ouro formando amalgama de ouro pode ser facilmente separado do ouro por ter grau de fusão baixo, deixando o ouro precipitado no fundo do recipiente. Aqui ocorrem três tipos de contaminação por mercúrio, quer tanto pela desinformação dos garimpeiros ou por negligência das autoridades.

O mercúrio é aquecido e passa a ser inalado pelo garimpeiro (intoxicação por via respiratória), o mercúrio entra em contato com a pele devido a técnicas precárias de manuseio do metal (intoxicação por via cutânea) e o mercúrio é perdido, ou ate mesmo jogado fora causando danos ambientais a plantas e animais que quando ingeridos causam doenças as pessoas que os consomem.

Conclusão

O mercúrio é um metal muito perigoso quando em contato com o organismo do homem, quer seja pela via aérea, cutânea ou por ingestão. Os danos causados pelo mercúrio são graves e em grande parte dos casos permanentes. Vemos em nosso país, trabalhadores literalmente mutilados devido a contaminação pelo mercúrio.

Há perda de dentes, problemas físicos e psicológicos. São problemas trágicos aos quais não podemos dar as costas. Devemos nos orientar, e em especial, nós Engenheiros de Segurança do Trabalho, estar sempre atentos para que a contaminações por mercúrio não aconteçam ou para que pelo menos se possam remediar os casos já existentes de modo que a perda da capacidade de trabalho e a perda e mutilação do ser humano caia drasticamente.

O conhecimento do mercúrio e de suas propriedades é muito útil para que casos de intoxicação por esse metal sejam minimizados.